"Seja um debatedor de ideias. Lute pelo que você ama." (Augusto Cury)

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Diversity Our Strength

Diversidade – a Nossa Força, é o lema da cidade de Toronto, capital da província de Ontário e maior cidade do Canadá. Toronto é uma das cidades mais seguras do continente americano e é uma das capitais culturais do Canadá e multiculturais do mundo. A diversidade é mesmo a força dessa lugar incrível que eu tive a oportunidade de conhecer e aprender importantes lições que são pra vida toda: respeite as diferenças, cresça com elas e entenda que o mundo é ainda maior do que você pensava.

Fui pra Toronto pra aperfeiçoar o meu inglês. Por mais que se estude o idioma, a imersão cultural é fundamental e eu queria viver como um canadense e entender por quê quem conhece o Canadá não quer ir embora. Sim, o Canadá é muito frio, muito frio mesmo. Peguei generosos -12ºC num dia ainda de outono em que a sensação térmica é de “I need a large cup of Tim Hortons”. Tim Hortons é a cafeteria preferida dos Torontonianos, parada obrigatória pra quem deseja vivenciar a cultura local.

Na verdade, se você quiser conhecer a cultura canadense, Toronto é sem dúvida a melhor escolha. Centro financeiro e industrial do país, ela encanta pela diversidade cultural e ambiental também. Toronto tem seus arranha-céus, a majestosa CN Tower, mas localiza-se às marges do Lago Ontário, o que propicia à cidade belas praias, parques por toda parte, e a vida noturna da cidade é maravilhosa, com muitos museus, galerias e restaurantes. Como a cidade é muito segura e super organizada, o transporte público te leva a qualquer lugar então você pode passear até tarde sem preocupação.

Vi a neve pela primeira vez na vida quando a cidade já estava começando a ser decorada para o Natal. As árvores nas ruas já estavam todas iluminadas e haviam renas e trenós feitos de pequenas luzes nas avenidas principais. Eles chamam os festivais de inverno por lá de Winter Magic, e eu pude ir ao Illuminite Festival na Dundas Square, que é como se fosse um evento de abertura. E é mesmo mágico. A transição do outono para o inverno é uma das coisas mais bonitas que eu já vi. Hoje eu sei que o Canadá é amor à primeira vista, e no fundo você gostaria de poder ficar um pouco mais.

Decidi que não usaria transfer do aeroporto e sim o transporte público e que ficaria num hostel. Foi a melhor coisa que eu fiz. Conheci pessoas do mundo todo por lá e também na minha escola, que ficava na mesma rua, a College St. O meu hostel ficava praticamente dentro do Kensington Market, um bairro super hipster da cidade. E lá ia eu todo dia de manhã pegar o streetcar vestindo cachecol, luva e touca de lã segurando um copo de café como uma cidadã canadense. Essa foi sem dúvida a parte mais divertida. Os streetcars, aqueles bondes elétricos super charmosos, são marca registrada de Toronto.

Um dos primeiros lugares que visitei foi o Ontario Legislative Building, que fica no Queen’s Park, no caminho entre a escola e o meu hostel. Participei de uma visita guiada onde pude conhecer o prédio, que é lindíssimo, e aprender sobre a forma de governo canadense. A Sra. Elizabeth Dowdeswell é a vice-governadora de Ontário, província da qual Toronto é a capital, e representa Sua Majestade a Rainha do Canadá. Sim, eles ainda reconhecem a Rainha Elizabeth II como Chefe de Estado pois o Canadá é uma monarquia constitucional parlamentarista e é um dos Reinos da Comunidade de Nações.

Explicando melhor, o Canadá é uma monarquia constitucional, um estado federal e uma democracia parlamentarista, com dois tipos de jurisprudência, o direito civil e o direito comum. O prédio abriga o escritório da vice-governadora, a Assembléia Legislativa de Ontário e os escritórios dos membros do parlamento provincial e é onde é celebrado o Remembrance Day ou Dia da Lembrança, conhecido também como Dia do Armistício em outros países. No Canadá a cerimônia acontece todo dia 11 de novembro pois marca o dia em que a Primeira Guerra Mundial terminou, às 11h do dia 11 do mês 11 de 1918, onde todos se lembram das pessoas que morreram em guerras, não apenas na Primeira Guerra Mundial.

É uma cerimônia muito bonita. Como eu estava lá na época, trouxe alguns livros sobre o dia chamado também de Poppy Day. A relação dessa flor com os campos de batalha é uma história belíssima que vale a pensa ser estudada. O lema da cerimônia é escrito em inglês antigo que só vemos ainda em memoriais e talvez por isso soe um pouco estranho: “Lest We Forget” é algo como “Para que não esqueçamos” em um tom imperativo. É importantíssimo participar de cerimônias como essas se sua intenção é a imersão cultural, e não é difícil entender o que eles sentem nesse dia, porque na verdade é o que todos nós sentimos quando lembramos das milhares de pessoas que perderam suas vidas nas guerras pelo mundo.

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Ontario Legislative Building

Próximo dali está o St. George Campus, o belíssimo campus da Universidade de Toronto, um complexo de construções no estilo gótico de muita beleza. Costumava caminhar pelo campus pra chegar em alguns museus que visitei. Um deles retrata bem a arquitetura de Toronto, uma mistura do antigo e do novo. Bem, foi no Canadá que aprendi que não se pode ter um futuro se esquecendo do passado. Com um acervo incrível, o Royal Ontario Museum é um dos maiores museus da América do Norte e possui um cristal encravado no meio do prédio, construído em 2007 pelo arquiteto polonês Daniel Libeskind. E o que dizer da estação de metrô do museu? Os pilares são réplicas de totens, verdadeiras obras de arte!

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Royal Ontario Museum

Há muitos outros lugares maravilhosos pra se visitar por lá, como a Nathan Phillips Square, onde estão a antiga e a nova Prefeitura de Toronto, o Museu de Arte de Ontário, o Bata Shoe Museum, um museu que conta a história da humanidade através dos sapatos, interessantíssimo, e é claro, a cidade é tão linda que valem os passeios a pé onde é fácil encontrar um prédio histórico, uma bela construção moderna, um monumento ou um caminhão pendurado pra fora da parede de um prédio, como no CTV Building. Legal demais!

Foi em um desses passeios que encontrei talvez um dos maiores símbolos da convivência harmônica entre o antigo e o novo em Toronto: a Gooderham Building, conhecida também como Flatiron Building, um edifício em estilo gótico francês construído em 1892 pelo arquiteto canadense David Roberts Jr. que reina soberano entre arranha-céus. Magnífico!

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Flatiron Building

No fim de semana fui a Toronto Islands e Niagara Falls. As ilhas de Toronto são de uma beleza ímpar e o contraste entre os prédios altos de um lado e a paisagem bucólica do outro reafirmam que em Toronto há espaço para tudo e que a cidade é tão complexa quanto nós, que nem sempre estamos em clima de cidade. Às vezes queremos campo, às vezes desejamos mar. Toronto tem tudo isso ao alcance da mão. Em poucos minutos de travessia, a visão que se têm é única. Acho, com toda humildade, que a linha do horizonte mais bonita que existe é a de Toronto. Ela parece ter sido desenhada por algum gigantesco ser mitológico que emergiu do mar e com sua visão privilegiada soube dar a proporção correta pra cada coisa.

Quem olha as ilhas de fora não imagina tudo o que tem lá. As trilhas, as praias, as pequenas casas que escondem cafeterias aconchegantes, as maple trees se preparando para o inverno. Muito cedo eu aprendi que a gente não encontra a felicidade em outra pessoa, porque ela não pertence a ninguém que a possa compartilhar, e que essa adorável visita dura o tempo certo pra que não se torne de costume. Pois bem, ela me visitou naquele dia, porque senti uma felicidade imensa quando vi aquela paisagem e o som das ondas tímidas do início de inverno. Ali agradeci Àquele que fez todas essas coisas e, de tudo o que fez, viu que era bom.

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Toronto Skyline

As Cataratas do Niágara ficam na cidade de Niágara, também na província de Ontário, a poucas horas de Toronto. Eu não sou daquelas pessoas com espírito aventureiro, então cheguei perto, tirei algumas fotos, achei lindo mas não fui lá em baixo nem fiz o passeio de barco perto da queda d’água. O lugar é lindo, lindo mesmo, e eu fui bem perto da Rainbow Bridge, que nos leva do outro lado para a cidade americana de Buffalo, atravessando a garganta do Rio Niágara.

Depois de passear por ali e conhecer a divertida mini Las Vegas de Niágara, gostei mesmo foi de visitar a antiga cidade Niagara-on-the-Lake, uma das mais antigas do Canadá. Cheia de lendas contadas pelos moradores locais, é uma cidadezinha linda, com uma atmosfera mística, como se tivesse algo no ar. Gosto desses mistérios, mas sei também que nem tudo se explica, simplesmente porque não é tudo que a gente tem que saber. A gente já se acha incrível não sabendo de nada, imagina se soubéssemos mesmo de alguma coisa… talvez então não fôssemos tão tolos né?

Em Niágara fica também a escola onde se ensina a fabricação do famoso icewine, o vinho produzido a partir de uvas congeladas a uma temperatura específica e que é uma iguaria para os canadenses. Realmente o sabor é delicioso e diferente de qualquer outro vinho. Sua produção teve início na Alemanha e foi levado para o Canadá por um imigrante. Por causa do clima, o Canadá é hoje o maior produtor e na escola aprendemos também porquê as garrafas são pequenas e finas e o preço é um tanto elevado. São necessárias muitas uvas para que se produza uma certa quantidade do vinho que deve ser apreciado em pequenas doses depois das refeições. Nunca antes.

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Niagara-on-the-Lake

Falando em bebidas e comidas, sendo eu mais boêmia que aventureira, fiz um tour em uma cervejaria local onde aprendi como a cerveja canadense é produzida. Experimentei todas as que eu pude enquanto estive lá e digo que são realmente muito boas. Experimentei também o famoso Poutine, prato típico da culinária canadense originário do Quebec, feito com batata-frita coberta com molho gravy e queijo coalho. Delícia!

Visitei também o Allan Gardens, que é uma linda estufa de plantas, o Ripley’s Aquarium, o Toronto Railway Museum, a Union Station e é claro, sempre há aquele lugar que você gostaria de ter ido e não foi possível. Dei uma passada no High Park, que já estava coberto de neve, mas não fiquei muito tempo, e queria muito ter ido ao Elgin and Winter Garden Theatre, mas ele está fechado para visitação devido a eventos particulares. Uma pena, porque ele é lindíssimo e eu queria muito visitá-lo.

Não fui ao teatro mas fui ao cinema, um desses que é cinema mesmo, com letreiro luminoso e cartazes de filmes antigos na parede, o Magic Lantern Carlton Cinema. Bem legal. Nesse clima de cinema visitei o TIFF Bell Light Box, onde acontece o Festival Internacional de Filmes de Toronto porque queria ver a exposição do cineasta americano Stanley Kubrick, um gênio da sétima arte. A exposição conta com um acervo sobre os principais filmes da sua carreira, storyboards e muito mais. Pra quem é fã do seu trabalho é mais que um presente.

Nos últimos dias em que estive em Toronto visitei a Casa Loma, termo em espanhol que significa Casa na Colina, e que pertenceu a um grande industrial do Canadá, Sir Henry Pellatt. Encontrei na internet um post no site OiToronto que explica bem a história desse castelo belíssimo e resolvi compartilhar o link aqui: http://oitoronto.com.br/20805/casa-loma-o-castelo-de-toronto/

Claro que eu tinha que dedicar um espaço pra falar das igrejas. Quem me conhece sabe que eu sou capaz de andar um dia inteiro só pra encontrar uma. Visitei a Catedral Anglicana de St. James, a Catedral Metodista United Church e a gigantesca Catedral Católica de St. Michael. Infelizmente não pude entrar pois ela está passando por uma complexa obra de restauração. No entanto, só pela fachada dá pra se ter uma ideia da beleza dessa construção.

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St. Michael’s Catholic Cathedral

No mundo dos esportes, não fui ao Rogers Centre, conhecido também como SkyDome, porque é um estádio de beisebol e a temporada de jogos acaba antes do inverno. No Air Canada Centre assisti o jogo de basquete do Toronto Raptors (que massa que são esses jogos da NBA) e queria saber mais sobre o esporte mais amado pelos canadenses: o hóquei. Visitei então o Hockey Hall of Fame, um museu e hall da fama dedicado à história do hóquei no gelo. O acervo é impressionante, composto por registros dos jogos, uniformes dos jogadores, troféus.

Ele fica no Brookfield Place, onde está também a Allen Lambert Gallerie, obra do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, conhecida também como Catedral de Cristal do Comércio. E mais uma vez vemos a união do antigo e do novo na arquitetura da cidade. No meio da estrutura futurista da Allen Lambert Gallerie está um edifício de 1890 reconstruído depois do grande incêndio de Toronto em 1904, onde hoje funciona o RBC Dominion Securities.

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RBC Dominion Securities & Allen Lambert Gallerie

O Brookfield Place está conectado ao The Path, a cidade subterrânea de Toronto que tem tudo o que você precisa em seus 30 quilômetros, principalmente nos dias mais frios. É por aqui o melhor caminho até a famosa CN Tower, cartão postal da cidade. Antes de chegar lá, ainda temos a Skywalk, passarela fechada de 500 metros que faz parte do The Path e nos leva até a Canada’s National Tower sob o seu belo céu de vidro.

A Torre CN, maior torre do mundo até 2007 com os seus 553,33 metros de altura, é uma torre turística e de comunicações construída entre 1973 e 1796 pela companhia ferroviária da época. E ela é muito, muito alta. A subida já é uma loucura, porque o elevador é de vidro na frente e leva apenas 58 segundos pra chegar lá em cima. Bem depressa encostei no fundo e já saí não muito bem, porque algum sádico teve a ideia de colocar uma parte transparente no piso do elevador também. Eu não tenho medo de altura, tenho fobia, sério.

O piso mais alto é o Skypod (447m) e é pago à parte. Pra quem quer tirar muitas fotos de uma vista privilegiada é uma boa. Mas onde eu estava já era alto demais então é claro que eu não fui lá. Abaixo dele está o local de maior visitação, o Main Observation Deck (346m) e o Restaurante 360º, que gira mesmo e permite uma visão panorâmica lá de cima.

Nesse piso há também uma ótima opção para os corajosos: o Glass Floor. Enquanto algumas pessoas caminhavam sobre o piso de vidro e tiravam fotos, eu ia deitada me arrastando pra que um simpático Senhor tirasse uma foto minha. Eu só ouvia a esposa dele falando: “Don’t look down!”

Um pouco acima de onde eu estava fica o EdgeWalk, que é para os loucos mesmo. Você caminha em uma plataforma que circunda toda a torre pelo lado de fora preso apenas por um cabo de aço. Tem uma parte abaixo do Main Observation Deck onde são geradas as luzes da CN Tower que é bem legal também.

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CN Tower

Vi o pôr do sol lá de cima e é algo que eu nunca, nunca vou esquecer, assim como nunca vou esquecer a beleza daquela cidade e daquele povo que me deu muito mais do que a oportunidade de aperfeiçoar meus estudos da língua inglesa.

Trouxe comigo o carinho dos colegas de todas as partes do mundo, a destreza da professora canadense que nem faz ideia do quanto me ajudou e a certeza de que quem constrói uma nação é mesmo o seu povo. Por isso, mesmo com toda a beleza natural e cultural que o Canadá possui, são aquelas pessoas que te oferecem ajuda antes que você peça que tornam aquele país incrível.

MH17

Não entendo quando tentam explicar de forma coerente que era a hora daquelas quase 300 pessoas. São esses conceitos batidos que se espalham e se tornam senso comum e ninguém mais questiona se há veracidade neles. É como dizer que cada um tem a sua verdade como se fosse a mesma coisa de dizer que há diferenças no que cada um acredita. A verdade é uma só, não importa se queremos enfrentá-la ou não.

A capacidade letal do ser humano interfere no equilíbrio das coisas, causa ruptura no decurso do tempo. Quase 300 pessoas tiveram suas trajetórias interrompidas porque achamos que podemos alterar o caminho justificados pelas nossas verdades. O extraordinário espaço de tempo chamado vida, com todas as suas possibilidades, para todas aquelas pessoas, terminou ali.

Cerca de 100 passageiros do voo MH17 da Malaysia Airlines estavam indo para a 20ª Conferência Internacional de Aids em Melbourne, na Austrália. Pesquisadores, ativistas e membros de ONGs estavam naquele avião. Consultores sobre a Aids afirmam que talvez a cura da doença poderia estar no trabalho de muitas daquelas pessoas.

E enquanto as autoridades tentam apontar o culpado pela queda do Boeing 777 em território ucraniano o mais rápido que podem, será que alguém se pergunta se a culpa e a responsabilidade são somente daquele que autorizou o disparo do míssil? Culpa e responsabilidade não são a mesma coisa. A culpa pressupõe um vilão e uma vítima, a responsabilidade é partilhada entre dois iguais. É preciso entender isso também.

Estatísticas… estatisticamente são 10 aviões em 100 anos abatidos em “incidentes” como esse. A definição de incidente é de algo que não se pode prever e que tende a alterar um acontecimento normal, podendo ser também um obstáculo momentâneo.

A verdade é que cada vida é preciosa e perdemos ali pessoas que interferiam positivamente no mundo, lutando contra a esmagadora estatística de mortes pela Aids no planeta. O mal não pode vencer o bem. Porquê esquecemos disso quando crescemos? Dos ideais da infância só lembramos de que temos que lutar para sermos felizes e realizarmos os nossos sonhos.

Estava naquele avião Joep Lange, diretor do Departamento de Saúde do Centro Acadêmico de Medicina da Universidade de Amsterdã, pesquisador que divulgou um estudo que demonstrava como um composto probiótico poderia atuar no vírus HIV. A Holanda é o país que mais investe em pesquisas em busca da cura da Aids.

Lange também foi um dos criadores de uma fundação sem fins lucrativos que melhora o acesso a medicamentos e tratamentos da Aids em países pobres utilizando terapias combinadas a preços acessíveis e meios de prevenção da transmissão do vírus da mãe para o bebê, especialmente na Ásia e África.

Não acontece sempre… não foi aqui.

O avião a jato foi uma das maiores invenções do ser humano, que alimenta desde os primórdios da existência o desejo de voar. A aviação comercial tornou-se então uma inovação denominada básica, de tamanha importância que cria ou transforma um setor da economia. E o mundo nunca foi tão pequeno. Posso estar em outro continente em pouco mais de 10 horas. O lá nunca foi tão aqui.

Por causa de outra invenção extraordinária do homem, a internet, ficamos sabendo em minutos da queda do avião em um país desse antes distante continente, sobretudo em sua parte oriental, para nós que vivemos na América do Sul.

Distância… fronteiras. Elas não mais existem. E se trata de fronteiras? Até agora a confirmação é de que haviam 298 passageiros no avião que partiu de Amsterdã e caiu na Ucrânia. As pessoas a bordo eram de mais de dez nacionalidades diferentes, não importa o quão bem armados fossem seus países de origem.

Esse mesmo terrorismo foi capaz de invadir e matar em um dos países mais poderosos belicamente do mundo no episódio marcado como 11 de Setembro. Não se trata de territórios, trata-se de pessoas. Para combatê-lo terão as nações que se armarem até os dentes, comprando armas militares tais como o BUK, míssel russo terra-ar de médio alcançe que provavelmente foi o que atingiu o Boeing 777 da Malaysia Airlines?

Isso é realmente necessário ou a Guerra Fria, que nunca deixou de existir, tem agora uma nova forma de corrida armamentista: vão de mãos dadas com os EUA os seus aliados, e vão de mãos dadas com a Rússia os seus. Entre eles a Venezuela, que já possui um BUK… e nós.

O Brasil está negociando com a Rússia um sistema de média altura que custará em torno de R$ 2,5 bilhões. E não, eu não quero viver num país que estreita laços cada vez maiores com países comunistas. Defendo o capitalismo? Não. Defendo a ausência de armamento para defesa de nossas divisas? Não.

Os países neutros são fortemente armados, mas possuem uma postura diferente em relação ao mundo. Era para lá que eu gostaria de ver o nosso Brasil caminhar. O limite de que tipo de armamento possuir está intimamente ligado aos motivos de um dia ter de usá-lo. A prova maior disso são as ogivas das bombas de nêutrons, bombas nucleares construídas durante a Guerra Fria, e que se especula terem sido desenvolvidas também nos anos 90 pela China e Israel.

Em que mundo está se tornando o que vivemos, com cada vez mais nações negociando esse tipo de armamento? O que ele pode evitar que compense o que ele pode destruir? Esse é o ponto. Portanto, eis o que a estatística não explica:

“Eu abri a porta e vi as pessoas caindo. Uma caiu na minha horta”.

”Partes da fuselagem e partes de corpos estavam espalhadas por quilômetros ao redor.”

”Entre os mortos estão muitas mulheres e crianças, incluindo um menino de cerca de 10 anos ainda caído ao lado da cabine do avião, o seu pequeno corpo coberto por uma folha de plástico.”

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Artista indiano faz uma escultura de areia em homenagem às vítimas do voo MH17 da Malaysia Airlines, na praia de Puri.

A nossa Copa

Eu assisti o tetra e assisti o penta. De lá pra cá muita coisa mudou, mas não foi pra melhor. A Copa foi muito boa para os países que nos visitaram, mas poderia ter sido melhor pra gente, que não teve o gostinho de sequer disputar uma partida no Maracanã. Tomamos dez gols em duas partidas… até o nosso futebol-arte estamos perdendo.

Quem sabe essa derrota amarga nos ensine alguma coisa dentro e fora de campo?

Temos muito a aprender com a Alemanha, que chegou com um time coeso que joga junto há muitos anos e que nos lembrou que conseguimos isso no nosso vôlei com Bernardinho. Nos mostraram também terem a mesma paixão pelo futebol e deram um show de civilidade e respeito à nossa cultura, muito mais que nós mesmos.

A federação alemã doou dez mil euros para uma tribo de índios pataxós em Santa Cruz Cabrália, onde ficaram hospedados. Dançaram com eles, pediram que as autoridades brasileiras cuidassem deles…

Se eu acho péssimo o Brasil ter sediado a Copa? Claro, mas teve um lado muito bom: vemos o mundo, o mundo nos vê e vemos a nós mesmos de um jeito um pouco diferente agora. Demoramos hoje no estádio em Brasília pra aplaudir os holandeses e eles retribuíram. Foi mesmo muito bonito. A Holanda, time esse que deveria estar na final amanhã contra a Alemanha.

Talvez seja essa a única oportunidade de muitos de nós de termos contato tão próximo com estrangeiros de países tão diferentes e distantes do nosso e essa atitude do povo no estádio hoje já mostra que começamos a aprender o que é civilidade com eles.

O carinho como os estrangeiros foram recebidos já chama essa de Copa das Copas. Quem sabe o que eles viram aqui nos dê autoestima e nos ajude a olhar para o que temos e somos com mais amor?

Vamos definir na urna em outubro se essa política que vimos no mundial é a que queremos para os próximos quatro anos, e vamos começar não deixando que a nossa pior participação em Copas do Mundo na história permita que candidatos se beneficiem do resultado para se elegerem. Sabemos o que nos fez chegar aqui dessa maneira, no fundo nós sabemos.

E que venha uma equipe forte e bem treinada, que não tenha por trás uma politicagem e venda dos melhores jogadores para beneficiar os cartolas dos clubes brasileiros, e que venha um povo unido e crítico que vai votar mais consciente e também fazer individualmente o seu papel por um país melhor para todos.

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Sul da Bahia: Costa das Baleias

Em duas incríveis semanas no extremo sul baiano, pude visitar três dos cinco municípios que formam a zona turística da Costa das Baleias: Alcobaça, Prado e Caravelas. Infelizmente não foi possível ir a Abrolhos, porque só podemos avistar as baleias jubarte de julho a novembro. Mas, felizmente, há um forte trabalho de preservação ambiental por lá que não vemos nos outros lugares onde fui. Há plantações de eucalipto por toda parte, destruindo a vegetação nativa e favorecendo o esgotamento do solo pelas indústrias de celulose.

Mas ainda há ações de preservação, como pude ver no distrito de Ponta de Areia, em Caravelas, onde recebi uma aula de um rapaz chamado Paulo, que conhece toda a história do lugar onde nasceu, e nos apresentou uma Gameleira de mais de quinhentos anos. Por decreto de Lei, é proibido o corte dessa belíssima árvore na região.

A orla de Alcobaça, ainda bem, está muito preservada, o mar ainda traz as suas bolachas do mar e as suas taliobas. A areia é grossa e limpa e o mar é escuro especialmente quando a maré sobe. A praia da Barra do Itanhém é de uma beleza indescritível, e a experiência de ver tão de perto a foz do Rio Itanhém nos faz pensar na riqueza que é esse nosso nordeste brasileiro. E o que dizer da praia do Grauçá? Um verdadeiro paraíso no distrito de Barra de Caravelas, em Caravelas. E a noite em Prado…

Há muito da história do nosso país naquela região, mas as construções dos centros históricos precisam ser melhor conservadas. A preservação do patrimônio cultural é a preservação da memória de um povo e o fato de uma construção ser tombada não é garantia de sua conservação, por isso é preciso incentivos públicos e também privados. Entendo também que não é um problema só do Iphan e do Governo Federal, mas dos Estados e Municípios, se não o custeio dessas obras, a busca junto aos órgãos competentes de que elas sejam feitas.

Por isso, vamos conhecer o nosso país, vamos visitar seus centros históricos e vamos divulgar a sua história, porque é a forma de perpetuar a nossa própria história. Vamos utilizar os meios de comunicação que dispomos para alertar sobre o estado de conservação do nosso patrimônio histórico, bem como da nossa fauna e flora, no intuito de chamar a atenção de entidades que possam cuidar que tudo isso não se perca.

Há também muita coisa que podemos fazer individualmente. Não leve nada dos lugares que visitar que não estejam à venda nas charmosas lojinhas dos comércios locais. O que está no mar pertence a ele. Admire, fotografe, e devolva. Não polua as praias e as cidades, não ponha o som alto do seu carro próximo a construções antigas e tenha cuidado ao passar com veículos pelas ruas estreitas e normalmente feitas de pedra dos centros históricos. Boa viagem!

OLYMPUS DIGITAL CAMERA Igreja Matriz de São Bernardo, Centro Histórico de Alcobaça BA, construída no século XIX durante a colonização portuguesa.

 

 

 

 

 

OLYMPUS DIGITAL CAMERASobrado Izidro Nascimento, Centro Histórico de Alcobaça BA, construída também no século XIX, é hoje uma casa paroquial.

 

 

 

 

 

OLYMPUS DIGITAL CAMERAIgreja Matriz de Santo Antônio, Centro Histórico de Caravelas BA, construída no século XVIII.

 

 

 

 

 

OLYMPUS DIGITAL CAMERACentro Histórico de Caravelas e suas construções coloniais do século XIX em estilo art nouveau feitas com azulejos de Macau.

 

 

 

 

 

OLYMPUS DIGITAL CAMERAIgreja Matriz de Nossa Senhora da Purificação, Centro Histórico de Prado BA, construída no século XIX.

 

 

 

 

Bravura

Fantasia sempre foi o meu gênero preferido. Magia, mitos e lendas… o sobrenatural. Cresci lendo livros, assistindo filmes, mas A Song of Ice and Fire é sem dúvida uma das melhores histórias de fantasia que já tive a oportunidade de ler na vida.

O mesmo posso dizer sobre a série. A começar pela trilha sonora, trabalho primoroso do maestro Ramin Djawadi, a emoção que cada música provoca marca um compasso diferente como a batida de um coração quando se está feliz, com medo, fugindo, vencendo.

Lendo sobre a vida do autor dessa incrível história, fruto de sua talentosa imaginação, não seria minha intenção escrever sobre os livros e George Raymond Richard Martin. Não li todos os já publicados ainda, embora já tenha buscado muita informação sobre cada personagem, o que acaba contando muito da história ainda a ler.

Em entrevista publicada recentemente na Folha de S. Paulo sobre a criação da série baseada em seus livros, intitulada Game of Thrones, um trecho merece destaque:

“Um tema central é certamente a disputa de poder. As relações de políticas e de governos. Mas prefiro pensar menos em temas e mais em histórias individuais, o que nos leva de volta aos personagens, à questão do coração. Os personagens se tornaram muito verdadeiros para mim e espero que também para o leitor.”

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E eu penso que é por isso que histórias assim exercem tanto fascínio sobre nós. Poder criar uma realidade a partir da nossa imaginação, viver num mundo de reis, castelos e dragões é algo maravilhoso, mas é sobre a história dos homens a essência de todas elas. E foi assim que Second Sons, último episódio que foi ao ar na última semana, trouxe de forma habilidosa essa ideia e tudo fez sentido.

Meu personagem favorito é sem dúvida Samwell Tarly por um motivo: bravura. Essa é para mim a palavra de escrita mais bonita para descrever coragem, valentia. Trocadilhos à parte com um filme lindíssimo que muitas pessoas conhecem, Samwell tem um coração valente, Braveheart em seu título original.

Na sequência de mais esse excelente trabalho dos atores e produtores da série, a cena em que Samwell desafia o temido white walker é linda. O instrumento encontrado por ele e que acabou por matar a criatura (cena extremamente bem feita por sinal), acredito ter feito muitos espectadores vibrarem.

Como se trata de uma história de imaginação, peço permissão ao autor para imaginar que foi um presente destinado ao bravo Sam, porque um coração tão puro e tão forte não poderia desaparecer assim. A minha torcida é para que outras proteções especiais venham a ele em boa hora.

Para os que ainda não sabem da imensa contribuição de George R. R. Martin a esse gênero, compor histórias com temas fantásticos presas às emoções, escolhas e limitações dos homens é algo muito difícil, é tão complexo quanto tecer uma teia sem se perder por seus caminhos. Mais uma obra digna dos mestres do gênero, como J. R. R. Tolkien, autor da porque não dizer, fantástica história dos homens The Lord of the Rings.

Quais são os seus personagens favoritos em todas essas histórias? Por quê? O que faz de Samwell Tarly, um homem fraco e incapaz a vista de todos, possuir tanta bravura e um coração que há em tão poucas pessoas? E quem seríamos nós nessas histórias? Quem somos nós nas nossas histórias? E são as nossas histórias verdadeiras?

Já não somos tão jovens

Sem títuloRenato Russo tinha uma mente em conflito, era questionador, depressivo, e absolutamente genial. Olhar a vida como ela realmente é, sem dissimulações e o cinismo que nos absolve de toda culpa tem um alto preço.

Passando pela história do rock na capital do país, estreou há alguns dias um filme sobre o seu passado até o começo do que veio a se tornar a Legião Urbana.

Ninguém imaginava que depois daquele show no Circo Voador, as músicas do chamado trovador solitário permaneceriam por gerações através de uma das maiores bandas de rock brasileiras.

As músicas que falavam sobre os valores da juventude burguesa em tempos de ditadura abriram caminho para o poeta que escrevia canções sobre histórias incríveis de pessoas comuns, Eduardos e Mônicas, Joãos do Santo Cristo, e canções pesadas sobre liberdade e amor.

Jovens e adolescentes que não viveram na época da Legião Urbana lotarem as salas de cinema tem uma explicação simples: mudaram as estações, mas nada mudou. A geração que cantava “Somos tão jovens” não é diferente das gerações que vieram depois e se fazem as mesmas perguntas quando cantam “Será que vamos conseguir vencer?”

Um trecho de Tempo Perdido dá nome à cinebiografia e mostra que a escolha das músicas foram pontuais, mesmo deixando saudade naqueles que gostariam de ter ouvido outras canções, muitas do auge da Legião.

O filme termina no começo do sucesso, talvez uma mensagem de que não acabou, uma homenagem que, assim como as letras escritas por Renato Russo, superam o fim da banda por um motivo infeliz.

Muitos anos depois, a geração Coca-Cola ainda se pergunta que país é esse e, apesar de já não sermos tão jovens, ainda somos pássaro novo longe do ninho. Força sempre!

O amanhã

“Se você pensar, sinceramente, não existe o amanhã.”

Não é uma das melhores coisas pra se ouvir de manhã cedo no meio de uma semana agitada, mas foi como um choque de lucidez nessa correria que é o nosso dia a dia onde tentamos fazer tudo o que é preciso em tempo. Tempo…

Essa frase é de autoria de uma pessoa desconhecida que me contou uma história.

Um dia bem cedo foi à feira com o pai e comprou uma peça de carne fresquinha. Era um domingo. “Mas pai, vamos assar essa carne hoje e chamar uns amigos…”

Para o pai, aquele não era um dia especial. “Não filha, só se tivermos algo importante pra comemorarmos antes do próximo fim de semana.”

Todos os dias são especiais, a vida e a amizade devem ser celebradas a todo momento. Foram essas as palavras ditas por essa pessoa com o semblante imerso em lembranças enquanto me narrava a história do pai.

Ele faleceu na quarta. E pra que não me restasse dúvidas ou ousasse argumentar, ela finalizou com essas palavras: “Tudo que você tem é o hoje, é o agora. Viva com intesidade, integridade e sabedoria.”

Impression, Soleil Levant, óleo sobre tela de 1873, acervo do Museu Marmottan em Paris.

Considerada uma das obras mais importantes do pintor impressionista Claude Monet, foi pintada de uma janela que se abria para o porto Le Havre ao amanhecer. Muitos associam essa obra ao pensamento de que cada momento dura o instante de perder-se.

Sem título

Dissimular, unir-se em alianças sem admiração e respeito buscando esconder os seus erros, embora tenha que encobrir outros maiores que os seus. Não ouvir, falar demais, pensar pouco, temer. Fraqueza.

São afligidos pelo medo e pela perseguição todos os que trocam suas falhas e omissões pelas dos outros. Mas não há nada escondido que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a se tornar conhecido. Bíblico e portanto profético. É assim, e mais cedo ou mais tarde acontecerá.

Ouvir, pensar, agir. Gestão envolve saber quem constrói com você. E porquê. Liderança não é cargo. E exige ausência de segundas ou qualquer das demais intenções que não possam ser compartilhadas com todos.

E quando tudo é descoberto e as alianças já não se sustentam em suas fundações de areia e suas promessas de vento, talvez já seja tarde para jogar. O blefe pode ser apenas seu. As cartas que você não vê podem ser verdadeiras.

E a verdade que amedontra e aflige, não se prende a laços. Segui-la é uma escolha. Apenas.

Rodrigo

Esse foi o primeiro Natal que passamos juntos depois da separação dos seus pais. Mas não foi esse o motivo que me levou a escrever sobre você. Já fazia tempo que eu pensava em escrever, mas é difícil achar palavras para falar sobre você.

O dia em que você nasceu não foi como os outros dias, e só depois de um tempo você pôde ir para casa. E o seu nascimento, da forma como aconteceu, vem nos ensinando a nos manter unidos desde então. E todos nós nos tornamos pessoas melhores depois que você chegou.

Se eu já o admirava tanto por ser um menino tão meigo e afetuoso, muito mais agora, quando vejo o carinho e cuidado com a sua mãe, e que você tem tentado da melhor forma entender que a vida ainda é muito mais complicada quando nos tornamos adultos, e que ela muitas vezes nos destina coisas que não entendemos.

Mesmo separados, seus pais sempre amarão você, assim como nós, que estamos do seu lado desde que você nasceu, eu, a dedé e a dinha. E não importa o que aconteça, nós estaremos sempre aqui. Sempre.

E sabendo o quanto você gostou do nosso presente de Natal, reescrevo aqui uma das frases mais bonitas de uma história de amizade, coragem e superação, da qual você deverá se orgulhar no futuro, porque pertence à sua geração:

“Não tenha pena dos mortos, Harry. Tenha pena dos vivos, e acima de tudo, daqueles que vivem sem amor.”

E claro, o Coldplay não poderia faltar.  Deus te abençõe e guarde o seu caminho Rodrigo. Eu amo muito você. Viva la vida!Coldplay8

Lifelines (a-ha)

“When I look back
I see the landscapes
That I have walked through
But it is different.

All the great trees are gone.
It seems there are
Remnants of them

But it is the afterglow
Inside of you

Of all those you met
Who meant something in your life.”

Olav V for Norway, August 1977