Diversidade – a Nossa Força, é o lema da cidade de Toronto, capital da província de Ontário e maior cidade do Canadá. Toronto é uma das cidades mais seguras do continente americano e é uma das capitais culturais do Canadá e multiculturais do mundo. A diversidade é mesmo a força dessa lugar incrível que eu tive a oportunidade de conhecer e aprender importantes lições que são pra vida toda: respeite as diferenças, cresça com elas e entenda que o mundo é ainda maior do que você pensava.
Fui pra Toronto pra aperfeiçoar o meu inglês. Por mais que se estude o idioma, a imersão cultural é fundamental e eu queria viver como um canadense e entender por quê quem conhece o Canadá não quer ir embora. Sim, o Canadá é muito frio, muito frio mesmo. Peguei generosos -12ºC num dia ainda de outono em que a sensação térmica é de “I need a large cup of Tim Hortons”. Tim Hortons é a cafeteria preferida dos Torontonianos, parada obrigatória pra quem deseja vivenciar a cultura local.
Na verdade, se você quiser conhecer a cultura canadense, Toronto é sem dúvida a melhor escolha. Centro financeiro e industrial do país, ela encanta pela diversidade cultural e ambiental também. Toronto tem seus arranha-céus, a majestosa CN Tower, mas localiza-se às marges do Lago Ontário, o que propicia à cidade belas praias, parques por toda parte, e a vida noturna da cidade é maravilhosa, com muitos museus, galerias e restaurantes. Como a cidade é muito segura e super organizada, o transporte público te leva a qualquer lugar então você pode passear até tarde sem preocupação.
Vi a neve pela primeira vez na vida quando a cidade já estava começando a ser decorada para o Natal. As árvores nas ruas já estavam todas iluminadas e haviam renas e trenós feitos de pequenas luzes nas avenidas principais. Eles chamam os festivais de inverno por lá de Winter Magic, e eu pude ir ao Illuminite Festival na Dundas Square, que é como se fosse um evento de abertura. E é mesmo mágico. A transição do outono para o inverno é uma das coisas mais bonitas que eu já vi. Hoje eu sei que o Canadá é amor à primeira vista, e no fundo você gostaria de poder ficar um pouco mais.
Decidi que não usaria transfer do aeroporto e sim o transporte público e que ficaria num hostel. Foi a melhor coisa que eu fiz. Conheci pessoas do mundo todo por lá e também na minha escola, que ficava na mesma rua, a College St. O meu hostel ficava praticamente dentro do Kensington Market, um bairro super hipster da cidade. E lá ia eu todo dia de manhã pegar o streetcar vestindo cachecol, luva e touca de lã segurando um copo de café como uma cidadã canadense. Essa foi sem dúvida a parte mais divertida. Os streetcars, aqueles bondes elétricos super charmosos, são marca registrada de Toronto.
Um dos primeiros lugares que visitei foi o Ontario Legislative Building, que fica no Queen’s Park, no caminho entre a escola e o meu hostel. Participei de uma visita guiada onde pude conhecer o prédio, que é lindíssimo, e aprender sobre a forma de governo canadense. A Sra. Elizabeth Dowdeswell é a vice-governadora de Ontário, província da qual Toronto é a capital, e representa Sua Majestade a Rainha do Canadá. Sim, eles ainda reconhecem a Rainha Elizabeth II como Chefe de Estado pois o Canadá é uma monarquia constitucional parlamentarista e é um dos Reinos da Comunidade de Nações.
Explicando melhor, o Canadá é uma monarquia constitucional, um estado federal e uma democracia parlamentarista, com dois tipos de jurisprudência, o direito civil e o direito comum. O prédio abriga o escritório da vice-governadora, a Assembléia Legislativa de Ontário e os escritórios dos membros do parlamento provincial e é onde é celebrado o Remembrance Day ou Dia da Lembrança, conhecido também como Dia do Armistício em outros países. No Canadá a cerimônia acontece todo dia 11 de novembro pois marca o dia em que a Primeira Guerra Mundial terminou, às 11h do dia 11 do mês 11 de 1918, onde todos se lembram das pessoas que morreram em guerras, não apenas na Primeira Guerra Mundial.
É uma cerimônia muito bonita. Como eu estava lá na época, trouxe alguns livros sobre o dia chamado também de Poppy Day. A relação dessa flor com os campos de batalha é uma história belíssima que vale a pensa ser estudada. O lema da cerimônia é escrito em inglês antigo que só vemos ainda em memoriais e talvez por isso soe um pouco estranho: “Lest We Forget” é algo como “Para que não esqueçamos” em um tom imperativo. É importantíssimo participar de cerimônias como essas se sua intenção é a imersão cultural, e não é difícil entender o que eles sentem nesse dia, porque na verdade é o que todos nós sentimos quando lembramos das milhares de pessoas que perderam suas vidas nas guerras pelo mundo.
Ontario Legislative Building
Próximo dali está o St. George Campus, o belíssimo campus da Universidade de Toronto, um complexo de construções no estilo gótico de muita beleza. Costumava caminhar pelo campus pra chegar em alguns museus que visitei. Um deles retrata bem a arquitetura de Toronto, uma mistura do antigo e do novo. Bem, foi no Canadá que aprendi que não se pode ter um futuro se esquecendo do passado. Com um acervo incrível, o Royal Ontario Museum é um dos maiores museus da América do Norte e possui um cristal encravado no meio do prédio, construído em 2007 pelo arquiteto polonês Daniel Libeskind. E o que dizer da estação de metrô do museu? Os pilares são réplicas de totens, verdadeiras obras de arte!
Royal Ontario Museum
Há muitos outros lugares maravilhosos pra se visitar por lá, como a Nathan Phillips Square, onde estão a antiga e a nova Prefeitura de Toronto, o Museu de Arte de Ontário, o Bata Shoe Museum, um museu que conta a história da humanidade através dos sapatos, interessantíssimo, e é claro, a cidade é tão linda que valem os passeios a pé onde é fácil encontrar um prédio histórico, uma bela construção moderna, um monumento ou um caminhão pendurado pra fora da parede de um prédio, como no CTV Building. Legal demais!
Foi em um desses passeios que encontrei talvez um dos maiores símbolos da convivência harmônica entre o antigo e o novo em Toronto: a Gooderham Building, conhecida também como Flatiron Building, um edifício em estilo gótico francês construído em 1892 pelo arquiteto canadense David Roberts Jr. que reina soberano entre arranha-céus. Magnífico!
Flatiron Building
No fim de semana fui a Toronto Islands e Niagara Falls. As ilhas de Toronto são de uma beleza ímpar e o contraste entre os prédios altos de um lado e a paisagem bucólica do outro reafirmam que em Toronto há espaço para tudo e que a cidade é tão complexa quanto nós, que nem sempre estamos em clima de cidade. Às vezes queremos campo, às vezes desejamos mar. Toronto tem tudo isso ao alcance da mão. Em poucos minutos de travessia, a visão que se têm é única. Acho, com toda humildade, que a linha do horizonte mais bonita que existe é a de Toronto. Ela parece ter sido desenhada por algum gigantesco ser mitológico que emergiu do mar e com sua visão privilegiada soube dar a proporção correta pra cada coisa.
Quem olha as ilhas de fora não imagina tudo o que tem lá. As trilhas, as praias, as pequenas casas que escondem cafeterias aconchegantes, as maple trees se preparando para o inverno. Muito cedo eu aprendi que a gente não encontra a felicidade em outra pessoa, porque ela não pertence a ninguém que a possa compartilhar, e que essa adorável visita dura o tempo certo pra que não se torne de costume. Pois bem, ela me visitou naquele dia, porque senti uma felicidade imensa quando vi aquela paisagem e o som das ondas tímidas do início de inverno. Ali agradeci Àquele que fez todas essas coisas e, de tudo o que fez, viu que era bom.
Toronto Skyline
As Cataratas do Niágara ficam na cidade de Niágara, também na província de Ontário, a poucas horas de Toronto. Eu não sou daquelas pessoas com espírito aventureiro, então cheguei perto, tirei algumas fotos, achei lindo mas não fui lá em baixo nem fiz o passeio de barco perto da queda d’água. O lugar é lindo, lindo mesmo, e eu fui bem perto da Rainbow Bridge, que nos leva do outro lado para a cidade americana de Buffalo, atravessando a garganta do Rio Niágara.
Depois de passear por ali e conhecer a divertida mini Las Vegas de Niágara, gostei mesmo foi de visitar a antiga cidade Niagara-on-the-Lake, uma das mais antigas do Canadá. Cheia de lendas contadas pelos moradores locais, é uma cidadezinha linda, com uma atmosfera mística, como se tivesse algo no ar. Gosto desses mistérios, mas sei também que nem tudo se explica, simplesmente porque não é tudo que a gente tem que saber. A gente já se acha incrível não sabendo de nada, imagina se soubéssemos mesmo de alguma coisa… talvez então não fôssemos tão tolos né?
Em Niágara fica também a escola onde se ensina a fabricação do famoso icewine, o vinho produzido a partir de uvas congeladas a uma temperatura específica e que é uma iguaria para os canadenses. Realmente o sabor é delicioso e diferente de qualquer outro vinho. Sua produção teve início na Alemanha e foi levado para o Canadá por um imigrante. Por causa do clima, o Canadá é hoje o maior produtor e na escola aprendemos também porquê as garrafas são pequenas e finas e o preço é um tanto elevado. São necessárias muitas uvas para que se produza uma certa quantidade do vinho que deve ser apreciado em pequenas doses depois das refeições. Nunca antes.
Niagara-on-the-Lake
Falando em bebidas e comidas, sendo eu mais boêmia que aventureira, fiz um tour em uma cervejaria local onde aprendi como a cerveja canadense é produzida. Experimentei todas as que eu pude enquanto estive lá e digo que são realmente muito boas. Experimentei também o famoso Poutine, prato típico da culinária canadense originário do Quebec, feito com batata-frita coberta com molho gravy e queijo coalho. Delícia!
Visitei também o Allan Gardens, que é uma linda estufa de plantas, o Ripley’s Aquarium, o Toronto Railway Museum, a Union Station e é claro, sempre há aquele lugar que você gostaria de ter ido e não foi possível. Dei uma passada no High Park, que já estava coberto de neve, mas não fiquei muito tempo, e queria muito ter ido ao Elgin and Winter Garden Theatre, mas ele está fechado para visitação devido a eventos particulares. Uma pena, porque ele é lindíssimo e eu queria muito visitá-lo.
Não fui ao teatro mas fui ao cinema, um desses que é cinema mesmo, com letreiro luminoso e cartazes de filmes antigos na parede, o Magic Lantern Carlton Cinema. Bem legal. Nesse clima de cinema visitei o TIFF Bell Light Box, onde acontece o Festival Internacional de Filmes de Toronto porque queria ver a exposição do cineasta americano Stanley Kubrick, um gênio da sétima arte. A exposição conta com um acervo sobre os principais filmes da sua carreira, storyboards e muito mais. Pra quem é fã do seu trabalho é mais que um presente.
Nos últimos dias em que estive em Toronto visitei a Casa Loma, termo em espanhol que significa Casa na Colina, e que pertenceu a um grande industrial do Canadá, Sir Henry Pellatt. Encontrei na internet um post no site OiToronto que explica bem a história desse castelo belíssimo e resolvi compartilhar o link aqui: http://oitoronto.com.br/20805/casa-loma-o-castelo-de-toronto/
Claro que eu tinha que dedicar um espaço pra falar das igrejas. Quem me conhece sabe que eu sou capaz de andar um dia inteiro só pra encontrar uma. Visitei a Catedral Anglicana de St. James, a Catedral Metodista United Church e a gigantesca Catedral Católica de St. Michael. Infelizmente não pude entrar pois ela está passando por uma complexa obra de restauração. No entanto, só pela fachada dá pra se ter uma ideia da beleza dessa construção.
St. Michael’s Catholic Cathedral
No mundo dos esportes, não fui ao Rogers Centre, conhecido também como SkyDome, porque é um estádio de beisebol e a temporada de jogos acaba antes do inverno. No Air Canada Centre assisti o jogo de basquete do Toronto Raptors (que massa que são esses jogos da NBA) e queria saber mais sobre o esporte mais amado pelos canadenses: o hóquei. Visitei então o Hockey Hall of Fame, um museu e hall da fama dedicado à história do hóquei no gelo. O acervo é impressionante, composto por registros dos jogos, uniformes dos jogadores, troféus.
Ele fica no Brookfield Place, onde está também a Allen Lambert Gallerie, obra do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, conhecida também como Catedral de Cristal do Comércio. E mais uma vez vemos a união do antigo e do novo na arquitetura da cidade. No meio da estrutura futurista da Allen Lambert Gallerie está um edifício de 1890 reconstruído depois do grande incêndio de Toronto em 1904, onde hoje funciona o RBC Dominion Securities.
RBC Dominion Securities & Allen Lambert Gallerie
O Brookfield Place está conectado ao The Path, a cidade subterrânea de Toronto que tem tudo o que você precisa em seus 30 quilômetros, principalmente nos dias mais frios. É por aqui o melhor caminho até a famosa CN Tower, cartão postal da cidade. Antes de chegar lá, ainda temos a Skywalk, passarela fechada de 500 metros que faz parte do The Path e nos leva até a Canada’s National Tower sob o seu belo céu de vidro.
A Torre CN, maior torre do mundo até 2007 com os seus 553,33 metros de altura, é uma torre turística e de comunicações construída entre 1973 e 1796 pela companhia ferroviária da época. E ela é muito, muito alta. A subida já é uma loucura, porque o elevador é de vidro na frente e leva apenas 58 segundos pra chegar lá em cima. Bem depressa encostei no fundo e já saí não muito bem, porque algum sádico teve a ideia de colocar uma parte transparente no piso do elevador também. Eu não tenho medo de altura, tenho fobia, sério.
O piso mais alto é o Skypod (447m) e é pago à parte. Pra quem quer tirar muitas fotos de uma vista privilegiada é uma boa. Mas onde eu estava já era alto demais então é claro que eu não fui lá. Abaixo dele está o local de maior visitação, o Main Observation Deck (346m) e o Restaurante 360º, que gira mesmo e permite uma visão panorâmica lá de cima.
Nesse piso há também uma ótima opção para os corajosos: o Glass Floor. Enquanto algumas pessoas caminhavam sobre o piso de vidro e tiravam fotos, eu ia deitada me arrastando pra que um simpático Senhor tirasse uma foto minha. Eu só ouvia a esposa dele falando: “Don’t look down!”
Um pouco acima de onde eu estava fica o EdgeWalk, que é para os loucos mesmo. Você caminha em uma plataforma que circunda toda a torre pelo lado de fora preso apenas por um cabo de aço. Tem uma parte abaixo do Main Observation Deck onde são geradas as luzes da CN Tower que é bem legal também.
CN Tower
Vi o pôr do sol lá de cima e é algo que eu nunca, nunca vou esquecer, assim como nunca vou esquecer a beleza daquela cidade e daquele povo que me deu muito mais do que a oportunidade de aperfeiçoar meus estudos da língua inglesa.
Trouxe comigo o carinho dos colegas de todas as partes do mundo, a destreza da professora canadense que nem faz ideia do quanto me ajudou e a certeza de que quem constrói uma nação é mesmo o seu povo. Por isso, mesmo com toda a beleza natural e cultural que o Canadá possui, são aquelas pessoas que te oferecem ajuda antes que você peça que tornam aquele país incrível.